Sonho Doce x La Suissa: o doce duelo que divide a Paraíba e revela duas identidades gastronômicas

A Paraíba é um estado marcado por contrastes que, longe de dividir, ajudam a construir uma identidade rica, plural e profundamente afetiva. Poucas rivalidades simbólicas são tão conhecidas quanto aquela que envolve João Pessoa e Campina Grande. Essa disputa atravessa décadas, manifesta-se no esporte, na cultura, na economia e no orgulho local, sempre de forma apaixonada e, quase sempre, amistosa.
Nos últimos anos, esse embate ganhou um novo e saboroso capítulo na gastronomia, colocando em destaque duas docerias que se tornaram verdadeiros patrimônios afetivos de suas cidades. O debate em torno de Sonho Doce x La Suissa ganhou força justamente por refletir duas trajetórias distintas que ajudaram a moldar o paladar e a cultura gastronômica da Paraíba.
O Sonho Doce x La Suissa não é apenas um duelo de vitrines recheadas ou receitas consagradas, mas um retrato fiel de duas histórias de empreendedorismo que ajudaram a moldar hábitos, memórias e encontros ao longo da BR-230, estrada que simbolicamente conecta a capital à Rainha da Borborema.
Uma travessia simbólica entre João Pessoa e Campina Grande
O Correio Paraibano percorre simbolicamente essa rota para colocar frente a frente duas casas que representam muito mais do que sobremesas. De um lado está a Sonho Doce, referência histórica da confeitaria pessoense e símbolo de perseverança familiar. Do outro, a La Suissa, guardiã de uma tradição que se confunde com a própria experiência urbana de Campina Grande.
Assim como outros empreendimentos gastronômicos e culturais que se tornaram símbolos regionais, a exemplo do restaurante Generoso Sertão, essas docerias extrapolam a função comercial e passam a integrar a identidade das cidades onde estão inseridas.
Mais do que uma comparação gastronômica, Sonho Doce x La Suissa tornou-se um símbolo afetivo que atravessa gerações e cidades.
Sonho Doce: tradição, afeto e empreendedorismo feminino na capital
Fundada em 1987, a Sonho Doce nasceu em João Pessoa a partir de uma necessidade concreta e comum a muitos brasileiros: complementar a renda familiar. A história da doceria é inseparável da trajetória de sua fundadora, Iêda Cardoso, professora de Português e Inglês que encontrou na confeitaria uma possibilidade de mudança de vida.
O início foi marcado por esforço extremo e disciplina. As madrugadas tornaram-se o principal horário de produção, quando a casa ainda dormia e o silêncio permitia concentrar-se na preparação das massas, no cuidado com os recheios e no tempo exato da fermentação. Antes de seguir para a sala de aula, Iêda já havia passado horas trabalhando, retornando ao forno sempre que necessário para garantir a qualidade dos produtos.
Os primeiros doces eram simples e profundamente ligados à tradição nordestina. Bolos como o pé de moleque e a queijadinha circularam pela cidade com a ajuda da mãe da fundadora, que levava os produtos para vender na Caixa Econômica Federal. Esse início revela uma característica central da Sonho Doce: a construção coletiva, familiar e gradual de um negócio que nunca perdeu a conexão com suas origens.
Crescimento, consolidação e sucessão familiar
Com o aumento da demanda, a atividade complementar transformou-se em empreendimento principal. A abertura da primeira loja consolidou a Sonho Doce como endereço fixo na memória dos pessoenses. O envolvimento direto do marido, Israel Cardoso, e da mãe de Iêda reforçou o caráter familiar do negócio, criando uma relação de proximidade com os clientes.
Ao longo de mais de 37 anos, a Sonho Doce tornou-se ponto de encontro de famílias, profissionais liberais, jornalistas e estudantes. Em uma cidade que se modernizou rapidamente, a doceria soube equilibrar tradição e inovação, preservando receitas clássicas ao mesmo tempo em que ampliava o cardápio.
Hoje, sob a gestão da segunda geração, representada por Iône Pimenta e Roberto Pimenta, a Sonho Doce mantém seus valores originais enquanto incorpora práticas contemporâneas de gestão. Localizada na histórica Praça da Independência, a doceria reflete a essência da capital paraibana: dinâmica, diversa e conectada à memória afetiva de seu público.
La Suissa: tradição urbana e identidade campinense
Em Campina Grande, a trajetória da La Suissa segue outro caminho, mas com impacto semelhante. Próxima de completar 25 anos de atividade, a doceria instalada no Centro da cidade tornou-se parte indissociável da paisagem urbana e da rotina local.
Gerida pelos empresários Karla Sousa e Eduardo Amorim, a La Suissa construiu sua reputação a partir da consistência e da fidelidade aos sabores tradicionais. Muito antes da visibilidade turística recente, a casa já era referência entre os moradores da cidade, funcionando como espaço de encontro, conversa e observação do cotidiano.
A ampliação recente do espaço físico reflete a alta demanda e reforça o papel da doceria como ponto de convergência social. Mesmo com o crescimento, a La Suissa preservou sua identidade visual e o ambiente acolhedor que a tornaram símbolo campinense.
Sabores clássicos e memória coletiva
O cardápio da La Suissa inclui salgados, bolos e tortas que atendem a diferentes preferências, mas é o apego aos sabores clássicos que sustenta sua reputação. O pastel de açúcar tornou-se produto emblemático, símbolo da casa e da tradição da Borborema.
Para turistas, a visita à La Suissa é recomendação quase obrigatória, assim como a contemplação de marcos culturais que ajudam a contar a história da cidade e do estado, a exemplo do Castelo da Torre, projeto que também ressignifica memória, território e identidade.
Sonho Doce x La Suissa: representatividade, não rivalidade
Ao observar o Sonho Doce x La Suissa, percebe-se que o confronto não se dá em termos de superioridade, mas de representatividade. Cada doceria expressa uma forma distinta de relação com sua cidade e com o público.
A Sonho Doce reflete o espírito empreendedor da capital, marcado pela adaptação constante e pela diversidade de consumidores. A La Suissa traduz o peso cultural de Campina Grande, funcionando como guardiã de rituais urbanos e sabores que resistem ao tempo.
Gastronomia como expressão cultural na Paraíba
Esse doce duelo revela como o empreendedorismo local pode assumir múltiplas formas e ainda assim produzir resultados sólidos. Estudos sobre cultura alimentar, como os divulgados pelo Sebrae, mostram que negócios enraizados na identidade local tendem a criar vínculos duradouros com seus públicos.
Ao longo da BR-230, a Paraíba abriga histórias distintas de sucesso que demonstram como pequenos empreendimentos podem se transformar em símbolos regionais. O Sonho Doce x La Suissa não divide o estado, mas reforça a ideia de que a gastronomia é um dos principais canais de expressão cultural e afetiva do povo paraibano.
Duas histórias, um mesmo legado
Em um cenário marcado por mudanças rápidas no consumo, essas duas docerias mostram que tradição e inovação não são opostas, mas complementares. Ambas souberam preservar sua identidade, adaptar-se quando necessário e manter o compromisso com a qualidade.
Seja em João Pessoa ou em Campina Grande, o doce sabor do sucesso continua presente, adoçando encontros, fortalecendo memórias e reafirmando que, na Paraíba, até as rivalidades são capazes de construir orgulho compartilhado. No fim, Sonho Doce x La Suissa não divide a Paraíba, mas revela como tradição, identidade e afeto podem coexistir em diferentes sabores e histórias.
Ao longo da Paraíba, a discussão sobre Sonho Doce x La Suissa mobiliza memórias, preferências e paixões que vão além do sabor.
O debate sobre Sonho Doce x La Suissa vai além da preferência por um doce específico. Ele reflete como a gastronomia da Paraíba constrói identidade, memória e pertencimento a partir de experiências simples, mas profundamente afetivas.
Ao comparar Sonho Doce x La Suissa, o público não escolhe apenas uma confeitaria, mas também uma história, uma cidade e uma forma de viver a cultura local. Esse tipo de disputa simbólica mostra como a culinária é parte essencial do imaginário paraibano.



