Autismo na Paraíba em 2025: A Demora no Diagnóstico, a Falta de Tratamento e os Desafios de um Sistema que Não Acompanha a Realidade

Nos últimos anos, o autismo deixou de ser um tema restrito a clínicas especializadas e passou a fazer parte das conversas públicas, das pautas legislativas e das demandas sociais. A Paraíba acompanha esse movimento nacional com um aumento significativo de pessoas que buscam avaliação e suporte. No entanto, embora a discussão avance, a rede de atendimento — especialmente no setor público — ainda caminha em um ritmo lento, muito distante da necessidade real das famílias que dependem do sistema. O resultado é um cenário de espera prolongada, diagnósticos tardios e tratamentos fragmentados, que comprometem etapas cruciais do desenvolvimento.
O autismo na Paraíba tornou-se um assunto urgente não apenas pela visibilidade crescente, mas pela incapacidade da estrutura existente de absorver a demanda. Enquanto informações circulam com facilidade na internet e nas escolas, o acesso real aos serviços essenciais continua restrito, burocrático e, muitas vezes, insuficiente.
Por que o diagnóstico de autismo na Paraíba é tão demorado?
O primeiro grande desafio enfrentado por quem busca avaliação para TEA é o próprio diagnóstico. Embora o Brasil tenha avançado muito em termos de informação e redução de preconceitos, o processo avaliativo ainda depende quase exclusivamente de especialistas que são poucos, sobrecarregados e distribuídos de maneira desigual no território paraibano.
A avaliação ideal envolve observação clínica, entrevistas estruturadas, protocolos formais e acompanhamento contínuo. No entanto, a realidade é que muitas famílias esperam meses — em alguns casos, mais de um ano — para conseguir uma primeira consulta com neuropediatra na rede pública. Esse atraso prolongado abre um hiato entre a percepção inicial dos sinais e a confirmação clínica, justamente em um período onde a intervenção precoce faz diferença significativa.
O problema não é isolado. Ele revela uma deficiência estrutural: ausência de equipes multidisciplinares em volume adequado, oferta insuficiente de profissionais especializados e um fluxo pouco organizado entre atenção básica, hospitais e centros especializados.
Até mesmo o retorno para concluir o diagnóstico costuma ser demorado. A limitação de agenda faz com que o processo aconteça em etapas longas demais, quebrando a continuidade necessária. Assim, o laudo — que deveria ser uma porta de entrada — se torna o ponto mais difícil de alcançar.
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Autismo na Paraíba: a importância do laudo e por que ele não chega na velocidade necessária
No caso do autismo na Paraíba, a demora do laudo não é apenas uma inconveniência: ela interrompe completamente o acesso a direitos já consolidados em legislação federal. Sem laudo, a pessoa não consegue:
- solicitar terapias pelo plano de saúde;
- garantir adaptações na escola;
- obter prioridade no atendimento;
- acessar benefícios assistenciais;
- regularizar acompanhamentos;
- emitir a CIPTEA.
Ou seja, todo o processo de atendimento, cuidado e inclusão depende desse documento inicial. Por isso, a morosidade provoca um efeito cascata, atrasando não apenas o diagnóstico, mas todo o conjunto de intervenções necessárias.
A rede privada oferece caminhos mais rápidos, porém inacessíveis para grande parte da população. Em média, consultas com neuropediatra custam valores altos e exigem retornos frequentes. Exames complementares, quando solicitados, aumentam ainda mais os custos. A desigualdade entre quem pode pagar e quem depende exclusivamente do SUS amplia o abismo entre diagnóstico e cuidado.
O segundo grande obstáculo: acesso às terapias
Após o diagnóstico, o segundo desafio começa imediatamente: conseguir acesso às terapias essenciais.
Na teoria, as intervenções recomendadas para pessoas com TEA são amplamente conhecidas: terapias comportamentais, fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia, integração sensorial, psicopedagogia e outras abordagens específicas. No entanto, na prática, a oferta na Paraíba é extremamente limitada.
As dificuldades são diversas:
- Horários insuficientes
Muitas unidades públicas oferecem apenas uma sessão semanal curta, muito distante da carga horária que especialistas recomendam. - Equipes incompletas
Há locais onde não existe terapeuta ocupacional; em outros, falta fonoaudiólogo; em outros, não há profissional de integração sensorial. - Rotatividade constante
A troca frequente de profissionais prejudica o vínculo, a evolução e o planejamento terapêutico. - Filas extensas
Crianças e adultos aguardam meses para iniciar tratamentos essenciais ao desenvolvimento. - Sessões coletivas ou genéricas
Em vez de um plano individualizado, algumas instituições tratam grupos diferentes com intervenções padronizadas, o que dilui a eficácia.
O resultado é um tratamento fragmentado, inconsistente e insuficiente para atender as necessidades específicas do espectro. A intervenção precoce, tão defendida pela ciência, perde grande parte de seu impacto quando inicia tarde ou acontece de forma descontínua.
A escola e o desafio da inclusão real
Embora o ambiente escolar seja frequentemente o primeiro lugar onde comportamentos diferentes são observados, ele também se torna um ponto de tensão quando o diagnóstico não está concluído. Muitas instituições não sabem como agir diante de um aluno com sinais de autismo na Paraíba, e isso gera dúvidas, conflitos e até encaminhamentos inadequados.
Mesmo quando o diagnóstico é confirmado, o suporte dentro da escola ainda é limitado. Faltam formações continuadas, faltam orientações práticas e, sobretudo, falta uma articulação sólida entre profissionais da saúde e da educação. Em muitos casos, a condução do processo depende exclusivamente da boa vontade da equipe escolar, quando deveria ser um procedimento institucional.
Apesar disso, a escola tem um papel central na vida de pessoas com TEA: é onde ocorrem muitas das interações sociais, onde a rotina se estabelece e onde habilidades fundamentais podem ser trabalhadas. Investir em formação, acompanhamento e suporte técnico não é luxo — é responsabilidade.
A legislação existe, mas o acesso ainda não
O Brasil possui um arcabouço robusto de leis relacionadas ao autismo:
- Lei Berenice Piana;
- Estatuto da Pessoa com Deficiência;
- Diretrizes da ANS para terapias;
- CIPTEA;
- Diretrizes de educação inclusiva.
O problema não é a falta de direitos, mas a falta de efetivação. No caso do autismo na Paraíba, isso é ainda mais evidente. Entre o que está escrito e o que chega à prática, existe uma lacuna grande, criada por limitações de equipe, estrutura e gestão.
Não basta ter direitos garantidos. É necessário que o Estado tenha capacidade real de cumpri-los.
A demanda crescente e a necessidade de planejamento
O aumento de diagnósticos não é um fenômeno isolado. Ele reflete uma sociedade que compreende melhor o autismo, identifica sinais mais cedo e reconhece que o TEA não se limita a estereótipos antigos. Mas essa evolução natural deveria vir acompanhada de investimento proporcional — o que ainda não acontece.
Se a Paraíba conta com mais pessoas buscando avaliação, mais famílias procurando terapia e mais escolas tentando se adaptar, é necessário que o sistema público:
- amplie equipes especializadas;
- descentralize o atendimento;
- crie fluxos mais claros entre unidades;
- acelere o diagnóstico;
- fortaleça centros de reabilitação;
- padronize encaminhamentos;
- monitore efetivamente a demanda.
Sem planejamento contínuo, o autismo na Paraíba continuará sendo tratado de maneira improvisada, com respostas tardias e insuficientes.
Como transformar o cenário do autismo na Paraíba
Especialistas apontam algumas ações essenciais para reverter o quadro:
1. Diagnóstico mais rápido e acessível
Criar fluxos definidos, ampliar equipes e aumentar a qualificação da atenção básica reduz significativamente o tempo de espera.
2. Terapias contínuas e suficientes
Sessões curtas e esporádicas não produzem impacto real. É preciso garantir intervenções adequadas, com plano individualizado e acompanhamento periódico.
3. Maior integração entre saúde e educação
Escolas precisam de apoio técnico, formação e orientação para lidar com comportamentos, adaptações e necessidades pedagógicas.
4. Descentralização do atendimento
Muitas famílias viajam longas distâncias dentro da Paraíba para conseguir atendimento especializado. Criar polos regionais desafoga a capital e democratiza o acesso.
5. Comunicação clara com a população
Um dos maiores entraves é a falta de informação sobre fluxos, direitos e serviços disponíveis.
Conclusão
O debate sobre autismo na Paraíba em 2025 é uma oportunidade de repensar o papel das políticas públicas e de encarar a realidade com maturidade. A população mudou — está mais informada, mais consciente e mais capaz de identificar sinais. Mas a estrutura que deveria acompanhar essa evolução ainda está descompassada.
Não se trata de falta de leis, nem de falta de interesse social. Trata-se de organização, investimento e capacidade de resposta. O diagnóstico não pode demorar meses. As terapias não podem ser insuficientes. A escola não pode atuar sem suporte. E o Estado não pode continuar trabalhando de maneira reativa, quando o tema exige urgência.
O autismo não é o problema. O problema é a lentidão com que o sistema responde ao que já está evidente há muito tempo.
Se a Paraíba deseja avançar de forma consistente, precisa transformar essa demanda crescente em política pública estruturada — e não em atendimento ocasional. O futuro de milhares de pessoas depende de decisões que precisam ser tomadas agora.



